segunda-feira, 30 de abril de 2018

Resenha-Geografia de Dona Benta,Monteiro Lobato



História de Dona Benta ensina a ciência geográfica de forma divertida e faz parte da coleção de livros de literatura infantil do autor, conhecida e apresentada pela editora como “Paradidático”. A obra possui trinta capítulos, dos quais os cincos primeiros são destinados à explicação científica. Os outros vinte e cinco capítulos descrevem as viagens de “O Terror dos Mares”, um navio de faz-de-conta, onde as personagens embarcam para estudar a “geografia do mundo”. Nessa viagem, a geografia deixa de ser uma matéria de estudo penoso e às vezes sem graça para se transformar em uma aventura linda, com paradas em inúmeros portos e descidas em terra para ver as coisas mais notáveis de todos os países.
O livro é elaborado com uma linguagem simples e de fácil entendimento, utiliza-se de termos comuns às pessoas, para explicar vocabulário técnico e baseia-se em objetos conhecidos para explicar os desconhecidos, permitindo assim uma experiência de imersão no mundo das letras na qual o livro ganha vida. E o leitor, ao dar vida ao livro, adentra um mundo de magia e fascínio, um mundo imaginário capaz de suscitar as mais diversas emoções.
Lobato compartilhou com as crianças o projeto que elaborou para reestruturar o espaço geográfico brasileiro. Esse projeto estava pautado na industrialização, no trabalho eficiente, na exploração dos recursos naturais, na educação, na construção de uma identidade nacional, na democracia e em uma política territorial, visando a desenvolver o país e a melhorar a condição de vida da população.
A história tem seu desenrolar com a turma do Sítio (Dona Benta – ensinando Geografia –, Tia Nastácia, Emília, Narizinho e Pedrinho, Visconde e Quindim) embarcada em um navio chamado “Terror dos Mares” viajando por diferentes lugares do Brasil e do mundo para aprender Geografia “na prática”.
A viagem ficcional teve início pelos estados brasileiros e destacou os aspectos socioeconômicos e físicos desses territórios, enfatizando como os seus habitantes podem explorar os recursos disponíveis para alcançar o progresso. No Rio Grande do Sul, por onde começa a viagem, “uma das partes mais importantes, mais ricas e de mais futuro do Brasil. Tem todas as condições de clima e topografia para desenvolver-se cada vez mais. O povo é sadio e corajoso. E entusiasta. Um povo feliz. As culturas são variadíssimas; produz até trigo; e as indústrias se desenvolvem com muita força.“
Aproveitando a proximidade do Rio Grande do Sul com a Antártida, a turma do Sítio resolve visitar essa terra gelada, e ali Dona Benta explica o que são os polos e o clima que atua nessa porção do planeta. Depois seguem para o Mato Grosso, onde Dona Benta comenta que o petróleo pode conduzir esse estado ao desenvolvimento, mas alerta para a ineficiência de suas vias de transporte. A questão do petróleo invade as próximas páginas, trazendo para a narrativa a posição de Lobato sobre a exploração do petróleo no Brasil.
A tripulação chega a São Paulo pelo porto de Santos, a grande porta de entrada e saída das mercadorias do país. Na capital, as crianças se impressionam com a grande quantidade de fábricas e de veículos trafegando, oportunidade para a introdução da questão do combustível: “ O petróleo é o rei dos combustíveis modernos (…) Os Estados Unidos tornaram-se o país mais rico do mundo porque é de todos o que produz mais petróleo.” A comitiva segue rumo ao Rio de Janeiro, uma região que não conseguiu substituir o trabalho dos negros nas lavouras, “a região sofreu muito. Em certas zonas o sapé e a saúva tomaram contas das terras”. Depois de passarem por Minas Gerais, grande produtor de ferro, entra em foco o Espírito Santo e o Nordeste brasileiro. Aí comenta-se sobre as secas e suas conseqüências, e D. Benta sugere soluções, como a irrigação e o aproveitamento comercial do babaçu. Ou seja, apresenta-se uma explanação dos problemas da região com propostas de soluções viáveis e coerentes. A realidade do país é posta de forma clara aos olhos dos pequenos leitores.
Na apresentação da Amazônia, uma longa explanação sobre os recursos das águas e das florestas mostra a preocupação com a possível exploração da região, o que evidencia a idéia do autor de formar uma consciência ambiental nas crianças brasileiras. Em seguida Dona Benta apontou uma pequena faixa de terra que liga a América do Sul à América do Norte – era a América Central. Seguindo sempre para o norte, chega ao México, país para o qual Dona Benta não poupa elogios: “a nação mais interessante de toda a fieira de nações plantadas pelos latinos na América (…) Tem uma arte toda sua, pintura sua, música sua, cerâmica sua, arquitetura sua, costumes só seus (…)  Depois falou de Tampico, perto da qual se descobriram os primeiros poços de petróleo mexicano”. A Cordilheira dos Andes aponta a proximidade aos Estados Unidos, país para o qual não poupa rasgados elogios: “Esse país é a glória do continente americano (…), o maior em riqueza, em civilização e em poder”. Depois de muitos adiamentos, o “Terror dos Mares” conseguiu partir rumo ao Canadá. Um país pouco povoado. “É só gelo e mais gelo”. Logo chegavam à Groenlândia, à Ásia e ao Japão, um império que vem assombrando o mundo, a caminho de se tornar uma grande potência; em seguida passam pela Velha China, com direito a uma parada para uma pequena excursão, Oceania, Índia, vista como “um mundo dentro do mundo”, Mar Vermelho e África, Mediterrâneo e Europa com destaque aos pontos turísticos.
“O regresso do ‘Terror dos Mares’ ao Brasil realizou-se a galope.” O fim de uma longa viagem cheia de originalidade e imprevisto; na aula ministrada por Dona Benta, revela-se um projeto de nação que Lobato pretendia para o país: evidencia nosso potencial econômico e energético e apresenta idéias para uma política territorial, ao mesmo tempo em que desvaloriza (na figura de Tia Nastácia), explícita ou subliminarmente, o povo brasileiro em sua parcela menos favorecida economicamente.
                                                    Fonte:https://literaturaparacriancas.wordpress.com

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