Era
uma vez uma linda festa no Céu... Entre todas as aves, espalhou-se a notícia de
que todas as aves compareceriam e começaram a fazer inveja aos animais e outros
bichos da terra incapazes de voo.
Imaginem
quem foi dizer que ia também à festa... O Sapo! Logo ele, pesadão e nem sabendo
dar uma carreira, seria capaz de aparecer naquelas alturas. Pois o Sapo disse
que tinha sido convidado e que ia sem dúvida nenhuma. Os bichos só faltaram
morrer de rir. Os pássaros, então, nem se fala!
O
Sapo tinha seu plano. Na véspera, procurou o Urubu e deu uma prosa boa,
divertindo muito o dono da casa. Depois disse:
-
Bem, camarada Urubu, quem é coxo parte cedo e eu vou indo, porque o caminho é
comprido.
O
Urubu respondeu:
-
Você vai mesmo?
-
Se vou? Até lá, sem falta!
Em
vez de sair, o Sapo deu uma volta, entrou na camarinha do Urubu e, vendo a
viola em cima da cama, meteu-se dentro, encolhendo-se todo.
O
Urubu, mais tarde, pegou na viola, amarrou-a a tiracolo e bateu asas para o
céu, rru-rru-rru...
Chegando
ao céu, o Urubu arriou a viola num canto e foi procurar as outras aves. O Sapo
botou um olho de fora e, vendo que estava sozinho, deu um pulo e ganhou a rua,
todo satisfeito.
Nem
queiram saber o espanto que as aves tiveram, vendo o Sapo pulando no céu!
Perguntaram, perguntaram, mas o Sapo só fazia conversa mole. A festa começou e
o Sapo tomou parte de grande. Pela madrugada, sabendo que só podia voltar do
mesmo jeito da vinda, mestre Sapo foi-se esgueirando e correu para onde o Urubu
se havia hospedado. Procurou a viola e acomodou-se, como da outra feita.
O
sol saindo, acabou-se a festa e os CONVIDADOS foram voando, cada um no seu
destino. O Urubu agarrou a viola e tocou-se para a Terra, rru-rru-rru...
Ia
pelo meio do caminho, quando, numa curva, o Sapo mexeu-se e o Urubu, espiando
para dentro do instrumento, viu o bicho lá no escuro, todo curvado, feito uma
bola.
-
Ah! camarada Sapo! É assim que você vai à festa no Céu? Deixe de ser
confiado...!
E,
naquelas lonjuras, emborcou a viola. O Sapo despencou-se para baixo que vinha
zunindo. E dizia, na queda:
-
Béu-Béu!
Se
desta eu escapar,
Nunca
mais bodas no céu!...
E
vendo as serras lá em baixo:
-
Arreda pedra, se não eu te rebento!
Bateu
em cima das pedras como um genipapo, espaçando-se todo. Ficou em pedaços. Nossa
Senhora, com pena do Sapo, juntou todos os pedaços e o Sapo voltou à vida de
novo.
Por
isso o Sapo tem o couro todo cheio de remendos.
(Conto
tradicional do Brasil)
Luís
Câmara Cascudo
Fonte
de pesquisa: http://virtudesaqui.blogspot.com
Alvoroço de festa no céu. (Projeto:Viajando
no Mundo da Imaginação)
Não
é que na véspera do Carnaval houve no céu uma festa para os bichos da selva?
Os
convites foram entregues por um beija-flor que delicadamente os deixava em cima
de corolas de vitorias-regias. O bicho que ia passando via o seu nome no
envelope e pulava de alegria: tinha sido contemplado com um programa para o fim
de semana!
Mas
notaram todos que só recebiam convites os bichos de asa. O que era uma
injustiça. Pelo menos foi o que o sapo gordo pensou. Os animais de terra estavam
conformados, esperando o dia em que houvesse a festa la na selva mesmo. Mas,
como eu disse, o sapo verde não. Todos riam dele e de suas reclamações coaxadas
e inúteis.
Ele
aproveitou o fim manso de tarde para gritar bem alto e ser bem ouvido:
—
Eu também vou!
Os
pássaros caçoaram e perguntaram:
Cadê
tuas asas, bicho feio?
Foi
então que pensou: devo consultar quem é igual a mim, porém mais velho. E
realmente, no brejo que ficava entre samambaias e avencas, encontrou um sapo
velho e cheio de sabedoria chamado Quá-quá- qua, Este se amedrontou com as
intenções do sapo jovem:
—
Olhe, é melhor para a sua saúde não sair do chão e ter água por perto.
Então
o sapo jovem disse-lhe:
—
O senhor é capaz de guardar um segredo? Pois bem, eu vou dançar lá em cima. Basta-me
que o urubu feio leve o seu violão
Qua-qua-qua
disse-lhe que não o entendia.
O
sapo foi falar com o urubu:
—
Você vai levar seu violão, urubu?
O
urubu, de violão debaixo da asa, nem se dignou a responder.
—
Senhor urubu, quer me fazer um único favor? O de ver se estou naquela esquina?
O
urubu, meio burro, replicou que, já que era um só favor, ele iria. E não
carregou o violão. O sapo mais que depressa entrou no violão e ficou lá bem
quieto, embora tivesse uma vontade louca de fumar. O urubu voltou para
lhe dizer que não o havia encontrado na esquina — mas cadê o sapo? Sumira,
pensou. E pensou: agora vou para o céu.
Para
encurtar a história, o sapo, dentro do violão, chegou ao céu e mais do que
depressa pulou para fora e começou a dançar todo feliz. Os pássaros se
espantaram,
perguntaram ao senhor sapo como havia chegado. Mas a alma do negócio é o
segredo e o sapo só respondeu malcriado:
—
É que eu me arranjo sempre!
E
entrou de novo sorrateiro no violão para ir embora. Mas o urubu percebeu a
coisa e ficou raivoso:
Espertinho,
não é? Pois agora mesmo é que você vai voar, vou te soltar no ar. Então o sapo
pediu todo manhoso:
—
Está vendo aquela pedra e aquele lago? Pelo amor de Deus, deixe eu cair na
pedra porque se eu cair no lago eu me afogo!
—
Pois é no lago que eu vou te largar, para você morrer!
O
sapo, bem feliz, caiu no lago, e salvou-se.
Moral
da festa? Bem, não houve.
Autora:
Clarice Lispector
Fonte
de pesquisa: http://virtudesaqui.blogspot.com
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