História
de Dona Benta ensina a ciência geográfica de forma divertida e faz parte da
coleção de livros de literatura infantil do autor, conhecida e apresentada pela
editora como “Paradidático”. A obra possui trinta capítulos, dos quais os
cincos primeiros são destinados à explicação científica. Os outros vinte e
cinco capítulos descrevem as viagens de “O Terror dos Mares”, um navio de
faz-de-conta, onde as personagens embarcam para estudar a “geografia do mundo”.
Nessa viagem, a geografia deixa de ser uma matéria de estudo penoso e às vezes
sem graça para se transformar em uma aventura linda, com paradas em inúmeros
portos e descidas em terra para ver as coisas mais notáveis de todos os países.
O
livro é elaborado com uma linguagem simples e de fácil entendimento, utiliza-se
de termos comuns às pessoas, para explicar vocabulário técnico e baseia-se em
objetos conhecidos para explicar os desconhecidos, permitindo assim uma
experiência de imersão no mundo das letras na qual o livro ganha vida. E o
leitor, ao dar vida ao livro, adentra um mundo de magia e fascínio, um mundo
imaginário capaz de suscitar as mais diversas emoções.
Lobato
compartilhou com as crianças o projeto que elaborou para reestruturar o espaço
geográfico brasileiro. Esse projeto estava pautado na industrialização, no
trabalho eficiente, na exploração dos recursos naturais, na educação, na
construção de uma identidade nacional, na democracia e em uma política
territorial, visando a desenvolver o país e a melhorar a condição de vida da
população.
A
história tem seu desenrolar com a turma do Sítio (Dona Benta – ensinando
Geografia –, Tia Nastácia, Emília, Narizinho e Pedrinho, Visconde e Quindim)
embarcada em um navio chamado “Terror dos Mares” viajando por diferentes
lugares do Brasil e do mundo para aprender Geografia “na prática”.
A
viagem ficcional teve início pelos estados brasileiros e destacou os aspectos
socioeconômicos e físicos desses territórios, enfatizando como os seus habitantes
podem explorar os recursos disponíveis para alcançar o progresso. No Rio Grande
do Sul, por onde começa a viagem, “uma das partes mais importantes, mais ricas
e de mais futuro do Brasil. Tem todas as condições de clima e topografia para
desenvolver-se cada vez mais. O povo é sadio e corajoso. E entusiasta. Um povo
feliz. As culturas são variadíssimas; produz até trigo; e as indústrias se
desenvolvem com muita força.“
Aproveitando
a proximidade do Rio Grande do Sul com a Antártida, a turma do Sítio resolve
visitar essa terra gelada, e ali Dona Benta explica o que são os polos e o
clima que atua nessa porção do planeta. Depois seguem para o Mato Grosso, onde
Dona Benta comenta que o petróleo pode conduzir esse estado ao desenvolvimento,
mas alerta para a ineficiência de suas vias de transporte. A questão do
petróleo invade as próximas páginas, trazendo para a narrativa a posição de
Lobato sobre a exploração do petróleo no Brasil.
A
tripulação chega a São Paulo pelo porto de Santos, a grande porta de entrada e
saída das mercadorias do país. Na capital, as crianças se impressionam com a
grande quantidade de fábricas e de veículos trafegando, oportunidade para a
introdução da questão do combustível: “ O petróleo é o rei dos combustíveis
modernos (…) Os Estados Unidos tornaram-se o país mais rico do mundo porque é
de todos o que produz mais petróleo.” A comitiva segue rumo ao Rio de Janeiro,
uma região que não conseguiu substituir o trabalho dos negros nas lavouras, “a
região sofreu muito. Em certas zonas o sapé e a saúva tomaram contas das
terras”. Depois de passarem por Minas Gerais, grande produtor de ferro, entra
em foco o Espírito Santo e o Nordeste brasileiro. Aí comenta-se sobre as secas
e suas conseqüências, e D. Benta sugere soluções, como a irrigação e o
aproveitamento comercial do babaçu. Ou seja, apresenta-se uma explanação dos
problemas da região com propostas de soluções viáveis e coerentes. A realidade
do país é posta de forma clara aos olhos dos pequenos leitores.
Na
apresentação da Amazônia, uma longa explanação sobre os recursos das águas e
das florestas mostra a preocupação com a possível exploração da região, o que
evidencia a idéia do autor de formar uma consciência ambiental nas crianças
brasileiras. Em seguida Dona Benta apontou uma pequena faixa de terra que liga
a América do Sul à América do Norte – era a América Central. Seguindo sempre
para o norte, chega ao México, país para o qual Dona Benta não poupa elogios:
“a nação mais interessante de toda a fieira de nações plantadas pelos latinos
na América (…) Tem uma arte toda sua, pintura sua, música sua, cerâmica sua,
arquitetura sua, costumes só seus (…) Depois falou de Tampico, perto da
qual se descobriram os primeiros poços de petróleo mexicano”. A Cordilheira dos
Andes aponta a proximidade aos Estados Unidos, país para o qual não poupa
rasgados elogios: “Esse país é a glória do continente americano (…), o maior em
riqueza, em civilização e em poder”. Depois de muitos adiamentos, o “Terror dos
Mares” conseguiu partir rumo ao Canadá. Um país pouco povoado. “É só gelo e
mais gelo”. Logo chegavam à Groenlândia, à Ásia e ao Japão, um império que vem
assombrando o mundo, a caminho de se tornar uma grande potência; em seguida
passam pela Velha China, com direito a uma parada para uma pequena excursão,
Oceania, Índia, vista como “um mundo dentro do mundo”, Mar Vermelho e África,
Mediterrâneo e Europa com destaque aos pontos turísticos.
“O
regresso do ‘Terror dos Mares’ ao Brasil realizou-se a galope.” O fim de uma
longa viagem cheia de originalidade e imprevisto; na aula ministrada por Dona
Benta, revela-se um projeto de nação que Lobato pretendia para o país:
evidencia nosso potencial econômico e energético e apresenta idéias para uma
política territorial, ao mesmo tempo em que desvaloriza (na figura de Tia
Nastácia), explícita ou subliminarmente, o povo brasileiro em sua parcela menos
favorecida economicamente.
Fonte:https://literaturaparacriancas.wordpress.com