“Não se nasce mulher: torna-se”, afirma Simone de Beauvoir. Ziraldo também sabe disso. Escrevendo tanto sobre meninos maluquinhos, já afirmou em entrevista que seria difícil escrever sobre o universo feminino. Um universo outro. Tão cedo se faz a diferença entre os sexos. Penso que Ziraldo sabe que menina já é um pouco mulher. Nesse processo intenso de tornar-se. Não que sempre tenha sido. “Torna-se”, diz Simone. E inicia o tornar-se, quem sabe, a partir do nome. Daniela, Catarina, Beatriz. Lucia, Madalena, Maria. Maria Madalena e Maria Santa. E Pomba Gira, Joana D´arc, Dona Joana. A menininha de pés descalços e a de saltos altos precoces. Perversa, mãe, boa, amiga. Do infinito das estrelas. Na multiplicidade de um devir, de um vir-a-ser, do tornar-se muitas, transformar-se em outras.
Ziraldo sabia que seria difícil. Mas descobriu que era possível. Talvez – afirmo eu – porque universos de misturam. Planetas e Estrelas se transmutam, e o fazer-se mulher é possibilidade dos instantes todos, e não apenas dos corpos nascidos femininos. E Ziraldo, “homem feito”, transformou-se – no vácuo do instante – nas palavras de uma leitora que afirmou que as meninas eram das estrelas. A transformação se deu a partir de um encontro com jovens leitores no qual o autor comentava sobre seu livro O Menino da Lua, e e surgiu questinonamento sobre o fato de não haver meninas entre os amigos de Zélen, personagem principal da obra. As palavras da garota se fizeram verso pro livro Menina das Estrelas, que trata de mistérios, segredos e amores, numa visão feminina – reinventada a partir do olhar de Ziraldo. Um novo olhar.
Por Carla Carrion
A MENINA DAS ESTRELAS Ziraldo traça um perfil das meninas, abordando a infância e a passagem para a adolescência. O heroísmo dos pais, a cumplicidade entre amigas, o interesse pelos meninos. As ilustrações, do autor, são bastante expressivas e enriquecem as caracterizações. Para meninas compreenderem melhor seu universo. Vem numa lata e acompanha uma camiseta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário